Eu estava nos últimos dias da minha vida, aos 3 anos de idade, com a última oportunidade de permanecer vivo, sem nenhuma possibilidade real.
Deus enviou ao meu encontro o Médico e professor, que após a cirurgia para extração do meu baço - algo inimaginável para a época, permitiu um momento de esperança aos meus pais e parentes.
Reproduzo com muita honra esta homenagem ao HILDEBRANDO MONTEIRO MARINHO - PATRONO DA CADEIRA Nº 76 DA ACADEMIA DE MEDICINA DO RIO DE
JANEIRO.
"Homenagem ao Professor Hildebrando Monteiro Marinho
prestada por seu neto Roberto Magalhães na Cerimônia de Abertura do HEMO 2005,
na cidade do Rio de Janeiro.
H. Monteiro Marinho é uma personalidade marcante em minha vida e gostaria de compartilhar
com os colegas desta maravilhosa experiência, privilégio e ótica de um neto médicohematologista.
Acredito que, para os mais antigos, seja uma forma de relembrar suas características mais
marcantes e para os mais novos apresentar um profissional cuja a trajetória é parte da história
do desenvolvimento de nossa especialidade no país, servindo de exemplo de dedicação e
espírito de luta.
Nascido e criado no Rio de Janeiro, concluiu seu curso de graduação em medicina pela Escola de
Medicina e Cirurgia em dezembro de 1941.
Seu interesse e primeira contribuição para a especialidade se fizeram notar, quando
desenvolveu e estruturou o primeiro núcleo de trabalho universitário em hematologia clínica do
Rio de Janeiro a convite do professor Luis Amadeu Capriglione da Faculdade Nacional de
Medicina na Universidade do Brasil, naquela época localizada no Hospital Moncorvo Filho.
Esta foi uma época de grandes dificuldades e também de progresso posto que, até então, não
havia o reconhecimento pleno do papel do hematologista, tal como ocorria nas demais áreas
clínicas.
Possuindo um firme propósito de realizar conjuntamente pesquisa científica, ensino e
assistência médica, teve de enfrentar em sua vida profissional inúmeras dificuldades tanto
de ordem estrutural como conjuntural.
Assim, implantou o serviço de hematologia clínica do Instituto Estadual de Hematologia sediado
no Hospital Pedro Ernesto. Em 1969, durante sua gestão como Secretário de Saúde do antigo
Estado da Guanabara, concluiu a obra e inaugurou o novo prédio do Instituto Estadual de
Hematologia, promovendo a união das estruturas de hemoterapia e hematologia clínica que até
então, coexistiam em separado.
E com isso realizou um antigo sonho: o de criar institucionalmente, condições de bom
atendimento assistencial, a hemopatas que não tivessem condições de serem assistidos em
clínicas privadas.
O Instituto de Hematologia, à época de sua inauguração, chamado de Instituto de Hematologia
Arthur de Siqueira Cavalcanti teve a oportunidade de receber a visita dos mais ilustres mestres
da hematologia dentre eles, não poderia deixar de citar: os Professores. Jean Bernard , Maxwell
Wintrobe e John Dacie.
Com base neste notável empreendimento, inúmeras, sementes foram plantadas em todo o
território brasileiro e ele, também, teve como grande contribuição a medicina a formação de
renomados especialistas e pesquisadores com destaque nacional e internacional.
Dr. Marinho dedicou 12 anos de sua vida profissional a essa Instituição tendo a oportunidade de
exercer por três períodos o cargo de diretor assim como o de chefe do serviço de hematologia
clínica.
Em 1983 foi convidado a chefiar a 3a
Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia.
Fiel aos seus propósitos, mais uma vez demonstrou sua obstinação a melhoria do ensino
acadêmico buscando adicionar aos moldes do antigo hospital, uma infraestrutura capacitada de
assistência, ensino e de pesquisa para alunos de graduação e pós-graduação.
Foi editor da Revista “Hematologia – Boletim” e para tal, contou com a fundamental colaboração
de sua esposa Maria Luiza (seu braço direito), mantendo o intercâmbio científico com cerca
de 1500 especialistas no Brasil e no mundo.
Suas atividades universitárias foram muito profícuas no que diz respeito a docência e a
pesquisa, teve livros publicados, foi membro de comissões científicas de revistas nacionais e
internacionais, participou de 62 bancas examinadoras de concursos para livre docência e
professor titular, participou de diversos colegiados, ingressou na Academia Nacional de
Medicina em 1969, com tese sobre hemoglobinopatia S, um problema de saúde pública que
muito o inquietava na época.
Como avô, muito me orgulho não só de sua trajetória que extrapolou em muito os limites de
médico e hematologista mas, sobretudo, da grande pessoa humana que é. Esteve presente em
minha sala de parto e nos nascimentos de meus filhos, sendo sempre um grande amigo em
todos os momentos da família.
Lembro–me como se fosse ontem sua alegria quando teve a notícia de que seu neto, iria
ingressar no curso de medicina na mesma Universidade onde se formara há 58 anos atrás.
Durante meu curso médico, tentava não me induzir diretamente a opção da especialidade,
reforçava sempre que deveria ter boa formação em clínica médica geral, no entanto, o Dr
Marinho de diferentes formas exercia uma prática de sedução contínua e lenta. Restou-me
sucumbir a este encanto e seguir naturalmente o destino que já estava determinado.
Vovô Marinho sempre dizia, um ditado hindu "O verdadeiro mestre é aquele o qual seus
discípulos o superam”. Hoje entendo que das sementes que plantou formou-se um belo
jardim que continuará crescendo, florescendo e perpetuando a hematologia em todos os cantos
do nosso país.
Meu avô, continue sempre sorrindo como o fez esta semana por ocasião de seu aniversário, sua
missão foi cumprida com louvor.
* Dr Roberto Magalhães, é medico hematologista do Serviço de Hematologia e
Transplante de Medula Óssea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)."
Um comentário:
A paz do Senhor Jesus, meu amado Pastor Newton. Muito bom. Sou fã de seus artigos.
Postar um comentário